Razão ...

RAZÃO ...


O conhecimento que recebemos, na maioria das vezes, não tem muita relação com a nossa história, no máximo tem relação com a nossa formação profissional.

Aprendemos a acumular conhecimentos, aplicar fórmulas, analisar teorias, repetir regras ...
Todos esses eventos têm relação direta com a nossa história pessoal, nossos sonhos, expectativas, projetos, relações sociais, frustrações, prazeres, inseguranças, dores emocionais e até crises existenciais.
Adquirir essas experiências e vivê-las a tal ponto de segurar as lágrimas para que não derramem, estar preso a pensamentos nunca revelados, ter temores não expressos, palavras não ditas, inseguranças comunicadas e reações psicológicas não decifradas, são àquelas em que aprendemos na escola da existência. É nessa escola que deixamos raízes, saudades e memórias infindáveis.
É vivendo com cada experiência, que aprendemos a lidar com ela.
Por todos esses motivos, a razão desse espaço é dividir aprendizagem, oportunizar leituras, e claro, me exercitar na escrita e na comunicação.

Seja muito bem vindo!


domingo, 4 de setembro de 2011

Não temos que perdoar. Quem disse?



Sexta-feira retrasada em uma saída com as Luluzinhas saiu uma conversa que mexeu com meus brios. Todos. Primeiro claro, por ter me sentido altamente afetada por aquilo que ouvi, depois porque colocou em xeque muita coisa da minha formação religiosa.

Afeto significa admirável, simpatizante. Afetado, significa acometido, abalado.

Uma outra questão que acho importante dizer é que adoro conversas intelectuais e diferente das pessoas que só gostam de estar perto de gente inteligente, é preciso também saber se portar junto delas. Que adianta querer se mostrar cult, se quando a oportunidade surge, você pega seu copo e se levanta da mesa? Bora ler minha gente. Bora ler. Senão não acompanha o bonde

A conversa intelectual começou sexta retrasada com as Lulus (banhados a 11 tequilas, sermão e long neck's) e sexta agora botei o assunto na mesa com os amigos da dança de salão (ao fundo de bolero e samba).

Comecei: "perdoar é o ato mais egoísta que o ser humano pratica contra o outro pois, além de dar-lhe carta branca a cometer seus erros, ainda não o ensina, não o educa. O perdão o abstém do erro que foi pacificado pelo perdão".

Me retrucaram: "o que você diz de alguma forma faz sentido, mas a Bíblia diz para perdoar setenta vezes sete. Isso é cristão!

"Acredito muito nisso - ponderei - é minha formação religiosa acreditar nos preceitos Bíblicos. Mas não estou dizendo para você não perdoar, estou dizendo o preço que você paga perdoando o indivíduo. Já parou para pensar que os perdoadores sentem um falso alívio? Na verdade, trazem para si o erro da outra pessoa. Além de não ajudá-la a parar de errar. O que quero dizer em outras palavras é que além de ter tido que carregar a dor do erro da pessoa, ainda traz mais outro: o de ter que passar por cima disso. Esse é exatamente o falso alívio: a pessoa não fica imune. Ao contrário, se ela tinha um peso, agora tem dois". E finalizei: "O correto então, deveria ser não aceitar as desculpas, mas simplesmente não deixá-la errar não perdoando-a".

Pronto. Acabei com a dança de todo mundo. Tiveram que ter uns 30 segundos antes de replicar-me. E então cada um expôs à sua maneira o ato de perdoar. E todas as justificativas são legítimas, porque além do perdão, falamos também sobre esquecer. Tem gente que perdoa e depois joga na cara e tem gente que passa por cima disso numa boa (será?).

Me explica os deprimidos? Pessoas que muitas vezes não falam, precisam de medicamento para se controlar ou dormir ou para dar conta do perdão diário e infindável. Dos traumas, das dores e dos dissabores. Quer tipos que mais exercitam o ato de perdoar? Segundo o dicionário Houaiss, perdoar significa "ato pelo qual alguém é dispensado de cumprir uma obrigação ou um dever". Eu nunca tinha lido esse significado, apenas entendia o perdoar na tradução comum (a todos) do verbo. Viu que não falo pelos cotovelos?

Julgo por mim. Passei por uma crise aos 21 anos o que me levou a ficar um ano em tratamento. Eram retornos ao médico e aumento da dosagem na prescrição periodicamente. Perda de peso, cabeça voada, mal humor, tristeza e um céu cinza, cinza. Mesmo na primavera. Quase todos os dias. Tinha uns muitos, que eu não tinha paladar e recusava sem pestanejar minha sobremesa favorita. Vaidade zero. Minha cor amarelou, meu cabelo caia muito, cheguei a pesar 42Kg e na crise não tinha choro: era o auge da depressão. Dizer que eu não tinha namorado e nem paqueras é totalmente desnecessário.

Então após um ano mais ou menos, vi que precisava reagir. Fazer meu mundo mudar por mim mesma. O médico não estava me ajudando muito. Nem os medicamentos. De certa forma, admito, ele era um ponto de equilíbrio - era dali que eu devia partir, mas não era definitivamente ali que eu deveria ficar. Um ano é muita coisa na vida de uma mulher de 21. Se eu estivesse estagnada - penso eu - ou a mercê de como as coisas estavam sendo conduzidas, eu não teria tido alta até hoje. Então um dia, em uma manhã ensolarada, fui tomar banho antes de ir trabalhar, me depilei toda, vesti um conjunto sobrevivente de lingerie decente, passei uma maquiagem azul e muito rímel e aceitei o convite da turma da loja para a um happy hour. Vi que eu tinha perdido todos os assuntos do ano. Todo o mundo caminhou sem mim. Continuar deprimida não me alavancaria. Eu não tinha papo. Sequer estava lendo. Assistia Chaves, desenho animado e só. Eu que sou aficcionada por leitura estava totalmente desatualizada e por isso então não tinha o que conversar. Então na mesa, apenas sorria e bebia meu primeiro copo de cerveja que mais parecia o primeiro da vida. No período de lamúrias só fiz cultivar o luto e brigar com o perdão que eu (achava que) tinha que dar para eu poder me libertar. Bobagem.

Hoje vejo que não foi nada disso. Precisei de 10 anos (tenho exatos 31) para perceber que eu não fui prá frente por conta do perdão que eu tinha que dar ou tinha que me ser dado. Precisei mudar para o meu mundo mudar e minhas atitudes fizeram com que isso desse certo. Não vou agora ser ingrata e dizer que fiz tudo sozinha porque eu sou a the best. Os médicos me orientaram, o medicamento me estabilizou, minha família mais uma vez me segurou (como sempre). Os amigos apareceram junto com o meu ressurgir e uma em especial me foi ótima ouvidos. Não é fácil conviver com quem não quer ficar bem e com quem só fala do passado como a chance da vida perdida. Outra bobagem. De lá para cá tanta coisa mudou. Ficou ora boa, ora ruim, ora péssima, ora ótima, ora maravilhosa.

Essa foi uma parte da minha vida que eu tinha esquecido. Não teve que haver perdão, teve que haver atitude. Principalmente e exclusivamente da minha parte. Há uma outra, ainda mais recente que nem pensei na palavra perdão para seguir adiante. E só hoje me dei conta disso. Pensei em mim e em mim. No momento de dor e de choro, refletia: vou cumprir esse luto até o fim, mas esse fim vai ter data para acabar. Foco. Objetivo e ... pimba! Precisei de dois meses para me refazer. Não vou me mostrar inatingível, porque houveram sim momentos posteriores de baque e alguns choros. Mas poucos. O suficiente. O saldo positivo foi: não perdi peso (não por isso), meu cabelo não caiu e não tive crises. Nenhuma. Ao contrário, voltei a estar magra (depois de um período de exercícios), meu cabelo tem crescido bem, sou contratada da *T*A*M* Viagens e meu coração está bem, obrigada. Cresci. Apareci. Amadureci. O tempo tem me feito melhor e mais otimista. Se eu pudesse eu mesma me beijava e me abraçava agora. Alguém aí quer fazer isso por mim?

Então, deixo a pergunta e a discussão: para você, o que é o perdão?

Nínive não vai mais perdoar. Vai cultivar sua memória de cachorro. Ou ... ficar bem longe.

2 comentários:

  1. Parabéns! Você escreve muito bem. Ótimas colocações sobre um assunto pouco comentado. Na verdade muitos falam do perdão, mas SABER exatamente o que significa é a minoria.
    Seu depoimento sacudiu minhas lembranças sobre várias atitudes que tomei nos últimos anos. Uiii, que loucura é pensar que poderia ter feito ou não de forma diferente, ou pensar que nada é por acaso e ai vai.
    Adoro poder rever meus conceitos sobre diversos assuntos e perceber que todos os dias posso aprender algo novo.
    Mais uma vez parabéns pela ATITUDE de recomeçar.
    Recomeçar é ser humilde e só assim conseguimos evoluir.
    Beijos
    Lidi

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  2. Uau, até que enfim é possível deixar uma mensagem aqui sem precisar me identificar. O pq não me identifico? Pq não quero, ainda não vejo necessidade, mas saiba, tem aproximadamente um ano, ou até mais, que venho ao seu blog.
    Primeiro quero dizer parabéns: por escrever tão bem, é isso que me faz vir tantas vezes aqui. Segundo por você ser uma mulher tão determinada, passar por tantas coisas e ainda assim, conseguir achar bom humor na vida. Sei de longe do que se passa na sua vida, mas por meio do blog, pude conhecer esse seu lado crítico, humorado. E te falo, impressionante. Ah e por favor isso não é uma cantada, é simplesmente um elogio, até porque uma cantada seria uma ousadia e de certa forma, falta de respeito. E quanto ao perdão, discordo de você, perdoar uns aos outros, passar por cima do q o outro fez e de nós mesmos é uma virtude, poucos conseguem verdadeiramente perdoar o erro de outro. Perdoar uma vez é amor, duas vezes é compaixão, mas a partir disso, se torna burrice. Então o problema do perdoar não é que vc está deixando ou fazendo com que a pessoa erra uma, duas, várias vezes contra você. Perdoar é reconhecer que assim como você a pessoa também é imperfeita e te ama, mas se isso se repete, pode ter certeza que não há amor, mesmo se for entre amigos.
    Vou finalizar dizendo que você é realmente uma garota impressionante, um dia me identifico, parabéns pelo blog e por favor deixe o espaço para os anonimos ou admiradores secretos, felicidades pra você menina.

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Agradeço de coração a você que me lê e que expressa em palavras sua demonstração de afeto e carinho. É um prazer receber a sua visita. Muah!