Razão ...

RAZÃO ...


O conhecimento que recebemos, na maioria das vezes, não tem muita relação com a nossa história, no máximo tem relação com a nossa formação profissional.

Aprendemos a acumular conhecimentos, aplicar fórmulas, analisar teorias, repetir regras ...
Todos esses eventos têm relação direta com a nossa história pessoal, nossos sonhos, expectativas, projetos, relações sociais, frustrações, prazeres, inseguranças, dores emocionais e até crises existenciais.
Adquirir essas experiências e vivê-las a tal ponto de segurar as lágrimas para que não derramem, estar preso a pensamentos nunca revelados, ter temores não expressos, palavras não ditas, inseguranças comunicadas e reações psicológicas não decifradas, são àquelas em que aprendemos na escola da existência. É nessa escola que deixamos raízes, saudades e memórias infindáveis.
É vivendo com cada experiência, que aprendemos a lidar com ela.
Por todos esses motivos, a razão desse espaço é dividir aprendizagem, oportunizar leituras, e claro, me exercitar na escrita e na comunicação.

Seja muito bem vindo!


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ó, assim: amo você


Maquiagem, cabelo, roupa, sapato de onça, mais uma olhada no espelho.
-  Quanto estiver pronta, faz sinal de fumaça.
-  1,2,3 e jáááááá!!! Respondi o torpedo .

Em 4 minutos ela estava na porta de casa.
- Bora prá Ituverava beach.
- E lá vamos nós.

Paradinha no posto prá comprar cerveja (quente) e uma ice( querosene de avião) e s’imbora.

Pessoa elétrica, fala, dirige, olha, acelera, freia, ultrapassa um caminhão, conta nos dedos quantos km andamos, acha que passou da entrada, dá um grito:  - é aqui, é aqui, ui!. Vira, contorna, quarta, quinta marcha, terceira, freia, para.

- Liga pro Príncipe e fala que estamos na porta do Espeto.

Fala, fala, ri, fala que quer ser comediante, ri de novo, fala que vai cobrar daí é a gente que não pode rir.
- Praonde vamos mesmo?
- Recinto.
- Então vamos, já são 11h (da noite).

Entra no carro, liga o som no máximo, canta, dança, baliza, ops, pneu encostou, baliza de novo, aewwww.

- Vai tocar o que mesmo?
- Moda de viola.

Só ouço sertanejo universitário. Assunto: será que ‘as moda’ do estado de São Paulo são diferentes das de Minas?

Ela não para de dançar, faz amizade com um véi de 80 anos que adora a companhia e começa a pagar bebida. Mas tem que dançar comigo. E pegar na minha mão – ouso dizer que ele devia estar pensando.

Confusão. Entendi nada. Até hoje. E ela ta lá no maior dê-erre. E o trem nem era com ela. Olho daqui, olho de lá e me vejo sendo carregada pro banheiro. – blá, blá, blá, blá, sim ela estava me falando um monte, além de me acusar de estar errada e um vai lá falar com ele.

Ela volta a dançar. E eu fico pensando no que falar. Por entre os dentes, ela balbucia: fala logo! Te mato! Manda em mim de novo. Daí a pouco estou eu fazendo dê-erre.

Ouço daqui, ouço acolá, tento falar e não me vem nada a cabeça. Ela? Ah, ela aparece na janela dançando o eu quero tchu, eu quero tcha, eu quero tchu, tcha, tcha, tchu... nessa parte mais rítmica, ela cai. Já viram uma girafa caindo? Eu vi. Nesse dia. O povo que a levantou do chão, até ficaram de costas para o palco. O show – a partir dali – acontecia ao lado deles. Todas as músicas que se seguiram, tinham uma dancinha. Para não cair ela tirou os sapatos e lá pelas tantas, era eu quem estava dando show junto. Na rua. E de graça. A nossa química bateu, o nosso amor aconteceu, se tem alguém que lhe quer bem, esse alguém sou eu, cola meu corpo com o seu, ser personagem do prazer, ou simplesmente ser alguém na sua vida. Vem cá, pode chegar,deixa de besteira, sou todo seu, todo seu, todo seu[...]

Sentamos, fomos comer: dois omeletes, um lanche, uma coca e mais uma cerveja.
- Vamos embora?
- Nem na bala, não vim aqui prá dormir!

Enfo.

Fui-me né. Dei entrada no hotel e lá pelas tantas, ela chega cantando Vem cá, pode chegar,deixa de besteira, sou todo seu, todo seu, todo seu[...]. Ela não dorme, não deixa a gente dormir e ainda consegui cair da cama: ora para o lado direito, ora pela frente. Lembra de um causo, levanta, abre a janela, conta, requebra, lembra que tem que tirar as lentes, volta dando um duplo mortal carpado e apaga.

Graças a Deus!

Acordamos a tarde, com um frio, frio, saímos para tomar café, pulamos o almoço, tomamos sorvete e fomos caçar o que fazer. Primeiro, procurar uma meia calça (meia fina), mas por mais incrível que possa parecer, a cidade não sabe o que é. Perguntaram-me se era uma calça pela metade, se era de vestir e quando disseram que sim, me deram uma meia Kendall média compressão. Blé!

A noite fomos em um bar, foto, outro bar, mais foto e depois uma boate que estava tocando sertanejo universitário. Entramos ao som de tumtsitum, tumtsitum, tumtsitum. É... o sertanejo deles também é diferente dos nossos, aqui essa batida se chama Techno.

Madrugada, fome, eu quero comer cachorro quente, tá?  - enfezei. Rodamos tudo quantuá, na cidade não vende cachorro quente além de meia fina. O cansaço chegou e vam’bora?
- Nem na bala  - ela me respondeu – não vim aqui prá dormir. Vai pagar a diária do hotel sozinha, porque daqui não saio.
- Ó – estiquei o polegar prá ela – beleza então.

Lá pelas tantas, ‘invém’ o trem, se desculpando que estava chegando aquela hora, porque o povo não quis ficar. Aquela hora eram umas sete da matina. Entra, acende a luz, conta outro causo de dentro do banheiro, sai, troca de roupa, deita e não consegue ficar quieta. Levanta, vê um filtro solar fotoequilíbrio fator 40  em cima da mesa, não se agüenta de graça e ri até cair no chão. Levanta, continua zombando, deita, ri. ZzzzzzzzZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZzzzzzzz.

Acorda dizendo que DETESTA ir embora. Desvira o sutiã que está em cima da mala, veste, arruma a bagunça, faz o check out e volta falaaaaando e combinando a próxima viagem.

- Quero ser comediante!
- To desperdiçada.
- E vou cobrar!

E me olha.

Vem cá, e eu já tô te devendo?




Ó assim: amo você

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Longe dos olhos mas perto do coração

[...] “ fazemos tudo o que um homem faz e de salto alto” é o término de um texto que já foi reescrito de diversas formas para vangloriar a independência feminina. Eu mesma sou a cara de muitas dessas versões, mas ando querendo passar essa minha cara prá frente. Não sou dona de casa, mas já fui, não sou mulher de nenhum marido, mas já fui, não lavo, não passo e não cozinho, mas já fiz tudo isso e usei muitos e longos finais de semana para descansar quando era possível, pois abria a despensa e via que tinha que fazer compras, abria o caderno e me lembrava de um trabalho da faculdade, consultava a agenda e via que tinha um lembrete de mim pra mim dizendo que aquele final de semana era o último da minha faxineira e como o marido dela era meu jardineiro, eu também ficaria sem ambos e quando tudo parecia declinar, ainda tive que entregar a casa onde morava e aiaiaiuiuiui procurar um novo lar. Namorar? Que jeito? Eu mal agüentava ir pra faculdade, levantava 05h30 da manhã, viajava uns 20km para ir trabalhar, chegava em cima da hora na faculdade e no retorno para casa ainda tinha que estudar para uma provinha oral básica de inglês pro’outro dia. Eita lelê: lerê, lerê, lerê, lerê, lerê.
Poxa, deixa eu falar uma coisa: não era mais legal quando o homem provia algumas dessas muitas coisas enquanto a gente cuidava de outras? Agora além dos serviços, dos estudos, dos filhos, da família, você ainda tem que ir atrás de independência financeira, moral, social para se sentir igual? Maior? Melhor?

Ó, tenho maior orgulho da vida que levei dos 21 aos 30. Mas além de batalhar e correr atrás eu sofri demaissss da conta. Mas demais mesmo. Sob muitos aspectos. E fui feliz sim, claro, porque para mim felicidade é estado de espírito, mas querer ser maior, igual que eles? Por que? Prá que? Ó, dá não hein?

Prefiro deixá-los trocar o pneu do carro, cortejar-nos, ser o provedor, acender uma churrasqueira , ou seja, cumprir a parte que lhes cabe, porque a ultima vez que fui acender uma churrasqueira, gentem.... primeiro que não entendo de arrumar o carvão no fundo, depois fazer um castelo, aí coloca fogo, bana, colocar gordura quente, bana de novo. Tudo isso foi-me dito depois das duas explosões que provoquei, com direito a voar a gordura na parede e enfumaçar tudo ao nosso redor. Depois que eu achava que a churrasqueira estava acesa, danei a cobrir toda a grelha de carne, um queijinho, mais gordura, pão de alho e vamos banar minha gente. Bana de cá, bana de lá, o queijo derreteu, o pãozinho de alho ficou pronto e resolvi começar a comer já que eram quase quatro da tarde e eu estava desde as 13h30 pelejando com a dita cuja. Enquanto comia, olhava de soslaio para a churrasqueira e só quando tudo enfumaçou de novo, vi que a churrasqueira tinha apagado fazia é tempo e a bonita aqui estava era espalhando a fumaça. Tira tudo da grelha, amontoa o carvão, dá-lhe álcool e POW! Mais uma explosão e lá vamos nós tentar assar a carne. Eram uma cinco e meia da tarde quando eu e aquele de bando de mulheres independentes cansamos da nossa empreitada e resolvemos comer o queijo cru mesmo, junto com o pão de alho com gosto de fumaça e hum... hum...e abrir o pote de sorvete com o bolo, ambos comprados prontos, porque claro, alguma coisa tinha que dar certo.




Pelo menos a cerveja estava gelada e meu salto anabela me colocara na altura que gosto de ficar. Mas vamos combinar, se eu estivesse descalça tinha visto mais de perto, não somente dentro da churrasqueira, mas também de que toda aquela situação teria sido evitada se tivéssemos em nossa companhia o motivo da conversa naquela tarde ensolarada encoberta pela nossa tentativa de viver um pouco longe deles.
Nínive não está defendendoe nem julgando. Só sendo romântica.